A coragem de olhar dentro de nós

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Homilia do 1º Domingo da Quaresma – Ano A

(15/03/2011)

Leituras:

Gn 2,7-9.3,1-7

Sl 50(51),3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a) ou ou mais breve 5,12.17-19

Rm 5,12-19

Mt 4,1-11

A verdade é que nossa vida é absorvida por tantas preocupações que não nos permitem de parar pelo menos um instante para entender de que lado estão nos levando: se pelo menos existe um percurso a seguir que nos leve a felicidade, não aquela de um momento que depois deixa um sabor amargo; se a nossa vida ainda tem um sentido que nos guia, nos ilumina, nos orienta na hora de escolher o que podemos aceitar ou não, o que vale a pena viver ou não.

Cristo também, após trinta anos de uma vida harmoniosa com Maria e José, seus pais, está muito preocupado, chegou a hora de realizar a sua missão, aquele anseio de justiça e de amor, que Deus Pai colocou no seu coração. A missão da vida se descobre nos desejos mais íntimos que temos na nossa alma. Poucos dias atrás um amigo me disse:” Padre, não quero mais do que tenho. Se trabalhasse mais poderia duplicar, triplicar minha renda; mas não quero isso; quero mais tempo para amar minha família; quero mais tempo para servir a Deus, conhecer sua Palavra, quero tempo para rezar, poder passear com meus caros”.

Qual é seu desejo mais íntimo?

Se você não o descobre, sua vida será uma corrida sem chegada, será um sacrifício sem valor ou pior ainda será tomada pela superficialidade, pela vaidade, pela aparência. Como uma pessoa cheia de produtos que aparece com um rosto brilhante, mas na solidão do seu quarto não pode deixar de ver que, caídos os produtos, seu rosto é cheio de rugas. Assim pode ser a vida quando, na solidão dos nossos pensamentos mais íntimos, a aposta na aparência nos deixa com um sabor amargo de quem não sabe permanecer na realidade deste mundo, mas vive como numa ficção teatral. Conheça seu desejo mais íntimo e saberá como e porque viver.

As vezes vejo pessoas que se aproximam deste desejo: começam a participar de algo novo, um trabalho voluntário, uma maneira de se doar, que está trazendo à tona o desejo mais íntimo daquela pessoa. Quando vejo pessoas que desistem disso, sofro profundamente, porque vejo claramente que aquela pessoa abandonou o caminho que a estava levando a se conhecer de verdade.

Voltamos a Jesus. Jesus não queria perder o seu desejo de libertar seu povo: precisava anunciar o amor do Pai. Com 30 anos procura o deserto, não um lugar, mas um momento de silencio para verificar como teria realizado seu desejo íntimo, sua vocação, sua missão.

Neste tempo o adversário (satanás) perturba Jesus.

A primeira tentação é de usar o poder divino: transformar pedras em pão!

Quantos seguidores teria? Milhões!

Mas do que adiantaria dar o pão se os homens não aprendessem a repartir. “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. (Mt 4,4)

Jesus negando a proposta tentadora, reafirma que seu desejo é ver um mundo mais fraterno. O caminho certo é anunciar a Palavra para que os homens aprendam a conviver, aprendam a repartir o pão.

A mágica do poder daria como fruto o pão, mas não transformaria o coração do homem. Jesus entende que seu desejo mais íntimo é transformar o coração do homem, com o anuncio da Palavra de Deus.

A segunda tentação: do aparecer, do fácil, do extraordinário!

Quantos homens fazem de tudo para aparecer. Os produtores de TV, quiseram provar para o mundo, que na nossa cultura o importante é a aparecer, ser famoso, ser reconhecido. Assim inventaram o BBB para mostrar que a TV não se alimenta convidando celebridades, mas ela mesma é capaz de transformar qualquer pessoa em celebridade.

Jesus, porém, sabia muito bem que o caminho está na humildade, no crescer ficando na sombra, sem as luzes da fama e do sucesso. Acima de tudo não podemos “tentar” a Deus. Isto é, não se pode usar Deus para ser famosos. Não se pode marcar milagre para Deus fazer. Não podemos querer que Deus faça a nossa vontade, mas somos nós que temos que fazer a Dele.

A última tentação resume todas: Não se pode adorar um outro Deus.

Não se pode cair na idolatria. Não existe um diabo que possa nos doar o mundo. O tentador só poderia nos doar ilusão, enganação, mentiras e com isso muito sofrimento. Algum domingo atrás, Jesus advertia: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).

A riqueza é apenas uma das ilusões deste mundo, talvez a mais tentadora e por isso a mais perigosa porque o mal nem sempre tem uma aparência feia, mas muitas vezes nos engana porque se apresenta como atraente.

Como Jesus, escolhemos Deus e seu projeto de vida e de amor. Não vamos deixar que ninguém tire o sonho que foi plantado por Deus no nosso coração.

Padre Graziano Cirina 15 de Março de 2011

Homilia publicada originalmente no site da Paróquia Sagrado Coração de Jesus

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