Natal é acolhida e partilha

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São Paulo numa sua carta relatou um hino, provavelmente litúrgico, que já fazia parte da tradição das comunidades cristãs do início. Nele, em outras palavras, que de propósito vou simplificar segundo uma linguagem atual, se diz que Jesus não quis ficar no céu gozando a beleza da vida de Deus; permanecendo perfeito, mas inalcançável, esplendoroso, mas distante.

Ao contrário Ele abriu mão da mordomia divina (se é que ela existe…) para se tornar um de nós e colocar seu “barraco” no meio de nós homens. Tornou-se então homem, não à maneira dos atores do cinema que interpretam uma personagem, mas se tornou homem de verdade. Seria como alguém realmente rico (usando uma imagem material) deixasse suas riquezas e suas mansões, para morar numa favela.

Não por acaso Jesus nasceu num lugar pobre e improvisado.

No caso de Cristo foi muito mais do que deixar mordomias e riquezas materiais: o intocável se tornou frágil; o imortal se tornou mortal; o amor de tudo se tornou o menor de todos; aquele que na sua perfeição não conhece o limite se tornou limitado; aquele que na sua beatitude não conhecia a dor se tornou sofrido; aquele que tinha como morada o céu infinito se tornou sem morada. Aquele que a filosofia chama de único e indivisível se tornou Partilha. Enquanto na indiferença de todos nós Deus se tornava homem, aconteceu que o homem se tornou Deus:

“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;  Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. ”(Mateus 25,34-40).

Sempre fiquei impressionado quando ouvi esta frase: “Conheço muitos homens que se fizeram de Deus, mas um só Deus que se fez homem”. Realmente Jesus mostrou que o segredo da vida é saber partilhar ao ponto de nos tornar uma coisa só com nosso irmão. Marido e mulher não vivem felizes porque não querem partilhar suas vidas, mas cada um pensa em si mesmo; pais e filhos se desentendem porque dos dois lados não existe o esforço de entender o lado do outro; nas comunidades não é diferente, como não é diferente na sociedade: quando o governante se faz de Deus só cuida dos seus interesse; o bandido mata quem quiser porque com a arma na mão se sente um deus; quem está bem de vida não quer saber de quem está mal, e por isso teoriza que o pobre não quer trabalhar; os países mais ricos só sabem olhar para o mundo a partir de seus interesses. Natal é a fé na partilha de quem sabe olhar não apenas do seu ponto de vista. Jesus nasceu menino frágil e indefeso para conhecer nossas angustias ou como diríamos hoje: para sentir o nosso drama.

Desejo a todos que a festa do Natal tenha a força de renovar o nosso coração, vencer a indiferença e todos os egoísmos e nos abrir a simplicidade e a partilha da noite de Belém.

Um Feliz Natal e um abraço fraterno a todos.

Padre Graciano

Texto publicado originalmente no jornal ‘Um só coração’ e no site da paróquia Sagrado Coração de Jesus no ano de 2010

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