Homilia da solenidade da Sagrada Família (02/01/2018)
Poderia falar da família ideal, quase com um tom poético. Todavia sinto a necessidade de falar sem poesias, mas com realismo. Vou ser realista ao falar de família. A Sagrada Família não é o modelo das famílias na sua forma, mas é modelo na intensidade do seu amor, até onde o conhecemos, pois, a família de Nazaré é muito diferente do normal. Uma mãe, virgem escolhida para ser a mãe do Salvador; José, esposo que depois da infância de Jesus simplesmente some e dele nada mais sabemos, e Jesus, um filho que se nos baseássemos nos fatos históricos permanece com a família mais de 80% de sua vida, para sair já adulto os últimos três anos de sua vida em uma missão que o leva a morte.
Pouco sabemos dos 30 anos de Nazaré. Podemos imaginar, porém muito mais: deveríamos aprender com todo o ensinamento de Jesus que mostra os pilares do amor maduro. Quando falamos de família falamos do amor maduro.
O evangelho nos fala de amor maduro, não do amor que suga, que domina, que explora. O evangelho nos fala do amor como doação mutua, generosidade, amor gratuito, perdão, acolhida, compreensão, cura, conforto e apoio, que são os pilares do amor que vivemos desde o nosso nascimento.
É uma grande contradição vir ao mundo de graça e por um amor generoso para depois desenvolver uma vida baseada em interesses pessoais. O que a família nos ensina é que amor é responsabilidade, é respeito, é cuidado para todos, é acolhida, é compromisso com a necessidade do outro. Família é tudo ao contrário do que a nossa cultura de exagerado individualismo está causando: pessoas dentro de casa que vivem como ilhas, ou como um lugar de passagem aonde uma pessoa vai quando lhe é conveniente, ou quando quer reclamar seus direitos, sem nunca se preocupar com seus deveres.
Diz-se e se fala muito, com verdade, que vivemos uma grande crise das instituições e a família é uma das mais atingidas, mas, na verdade, a grande crise está nas pessoas. As pessoas que desaprenderam a amar, a se doar. Em crise está a educação que transmite o pior da cultura que vivemos, que em lugar de amar as crianças de verdade, dando para elas instrumentos para construir suas vidas, fica apenas paparicando-as, sem coragem de impor limites, encaminhando-as para uma fragilidade estrutural, que faz delas pessoas sem força para viver, sem forças para aceitar derrotas.
A educação sem a imposição de limites é um falso amor que machuca as crianças para sempre. Sorte para alguns, que a vida impõe seus limites e, mesmo na marra, jovens se estruturam aprendendo no dia a dia aquilo que em casa não aprenderam.
Não precisamos de príncipes e rainhas, precisamos de gente que sabe construir suas vidas no amor e na liberdade. Não precisamos de contos de fadas, precisamos de gente que sabe correr atrás de sonhos verdadeiros, sonhos comuns que são a construção da realidade. A família no projeto de Deus é o lugar onde as pessoas aprendem a amar e ser amadas. A família deve ensinar a preocupar-se com o SER e não com o TER.
Padre Graziano
Homilia escrita em 02/01/2018 e postada originalmente no site da Paróquia Sagrado Coração de Jesus