Gerados no amor para ser amor

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Homilia do VIIº Domingo do Tempo Comum

Ano A (24/02/2017)

Leituras:

Lv 19,1-2.17-18

Sl 102(103),1-2.3-4.8.10.12-13 (R. 1a.8b)

1Cor 3,16-23

Mt 5,38-48

Continua a grande aula de Jesus sobre as atitudes e comportamentos concretos que eram permitidos na Lei do Antigo Testamento e que não cabem mais na nova Lei anunciada por Ele. O grande esforço do mestre em realizar a transformação do coração humano.

Ensinamento que é muito claro e difícil ao mesmo tempo. A regra apresentada por ele é assustadora para nós que, querendo ou não, aprendemos a lidar com a nossa imperfeição, nos acostumamos a comportamentos inadequados (e as vezes imorais), brincamos tanto com a hipocrisia tentando nos convencer que os nossos pecados não são mais pecados, mas um jeito inteligente de nos virar.

Mesmo assim Jesus nos propõe o seu parâmetro: “Sede perfeitos como o Pai é perfeito!” (Mt 5, 48)

Sinceramente me surpreende que após um discurso desse os discípulos continuaram a seguir Jesus. A sua proposta é tão difícil que me maravilha alguém ter coragem de encarar.

Quero ser sincero com vocês: dá uma vontade de falar: “Senhor deste jeito não dá, é difícil demais!” Por isso creio ainda mais nos Evangelhos como textos historicamente autênticos, pois se alguém tivesse inventado “historinhas sobre Jesus” com o motivo de proselitismo, com certeza este texto não estaria no evangelho.

Mas existe uma solução sim. Só nos acalmar um pouco e refletir. Vamos com ordem.

Primeiro: Jesus aqui nos abre ao infinito.

Não se trata de uma mudança repentina, imediata, mas de um novo horizonte que nos mostra onde o amor verdadeiro pode nos levar.

Segundo: é um texto paradoxal, isto é, explora uma linguagem exagerada, com o fim de remarcar uma ideia com força.

O próprio Jesus, quando leva um tapa de Pilatos, não oferece a outra face, mas pergunta: por que me bates se não te fiz nada de mal? A própria igreja na sua tradição defende o direito da legitima e proporcional defesa:

Canôn 2264 do Direito Canônico:  O amor a si mesmo permanece um princípio fundamental da moralidade. Portanto, é legítimo fazer respeitar seu próprio direito à vida. Quem defende sua vida não é culpável de homicídio, mesmo se for obrigado a matar o agressor:

Se alguém, para se defender, usar de violência mais do que o necessário, seu ato será ilícito. Mas, se a violência for repelida com medida, será lícito… E não é necessário para a salvação omitir este ato de comedida proteção para evitar matar o outro, porque, antes da de outrem, se está obrigado a cuidar da própria vida.

Terceiro: Jesus praticamente nos diz que o amor não pode conviver com o ódio.

Que o amor mantém sempre a mesma convicção mesmo nas situações mais complicadas. AMA-SE o próximo por convicção própria, independentemente se ele merece ou não. O amor não é um prêmio que damos àqueles que nos agradam, mas é um jeito de ser. 

Sempre me impressionou nas biografias do Al Capone, o maior gangster da América, o fato que era um avô exemplar, muito carinhoso com suas quatro netinhas e enquanto as carregava no colo mandava assassinar seus inimigos!

Até que nós não acreditarmos que o ódio nos destrói, não estamos entendo nada da vida e muito menos da mensagem de Cristo. Podemos nos proteger do “inimigo”, mas não existe o direito de odiar, o direito da vingança. Ódio e vingança sempre deixarão feridas profundas no nosso ser.

Não depende mais nem de Deus, assim fomos gerados por Ele, e se o amor é o ar que nos faz respirar, o ódio é a falta deste ar, morremos espiritualmente, morremos por dentro.

Vamos nos privar de tudo para ajudar o próximo? Não precisa, não. Mas a nossa caridade e a nossa solidariedade devem ser proporcionais as nossas possibilidades e a necessidade real do outro.

Por isso Jesus não põe limite ao nosso crescimento no amor: sede perfeitos como o Pai.

Jesus quer que vivamos no amor e que não coloquemos limites ao nosso amor; ele acredita que possamos amar como ele nos amou. Realmente, quando decidimos praticar o amor nos tornamos pessoas capazes de atos surpreendentes. O amor não é um sentimento pequeno, mas uma decisão, uma postura de vida. Ama quem decide fazer da pratica do amor a escolha mais importante de sua vida. Colocar o amor em primeiro lugar é colocar Deus acima de tudo, porque Deus é Amor.

Padre Graziano (24/02/2017)

Homilia postada originalmente no site da Paróquia Sagrado Coração de Jesus

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