Distraídos ou conscientes?- Homilia do 1º Domingo do Advento – Ano A- Pe Graciano

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1º Domingo do Advento – Ano A

Primeira leitura: Is 2,1-5

Salmo: 121(122),1-2.4-5.6-7.8-9 (R. cf. 1)

Segunda Leitura: Rm 13,11-14a

Evangelho: Mt 24,37-44

Advento: quatro semanas que nos preparam ao Natal. Não podemos pensar de forma superficial que Jesus vai nascer de novo: Ele nasceu na história e vai voltar na glória, no fim de tudo. Então o Natal que vivemos na Liturgia e na oração é o nascimento do Salvador em nós, na nossa vida, na nossa família, nas nossas comunidades. Estamos preparados ou queremos nos preparar para acolher Jesus o Salvador? Acolher Jesus, acolher Deus, sua maneira de ser.

Acolher o Deus que se faz pequeno, frágil como nós.

Talvez gostaríamos de um Deus adulto, forte, poderoso, que resolva todos os nossos problemas e não um Deus que nos causa problemas, que nos lança sempre novos desafios, que nos chama a sermos melhores, mais autênticos, mais generosos, menos apegados as coisas, menos egoístas. Um Deus que não veio para resolver tudo sozinho e tirar nossa responsabilidade, mas nos chama a construir nossas vidas, a caminhar, nos esforçar para dar sentido a nossa vida.

A nossa cultura usa muito uma palavra, ou melhor um verbo, que é bastante ambíguo: curtir. Temos certeza que a vida nos foi dada para curtir? Jesus nasceu em Belém para quê? Quando olhamos a vida de Jesus pensamos em curtição ou em doação? Claro que na vida existe o curtir, mas a vida não pode ser só isso. Na vida tem trabalho, sacrifício, momentos bem doloridos, momentos para ajudar e sermos solidários, momentos para cair e levantar.

Parece que é exatamente o que Jesus quis dizer em relação ao tempo de Noé, tempo do diluvio, todos comiam e bebiam como se nada fosse, ninguém percebeu que aquele mundo estava para acabar: “até que o diluvio veio e arrastou a todos”. É possível viver sem perceber o diluvio, sem perceber o rosto de milhões de pessoas sofridas, sem perceber o drama de 12 milhões de pessoas sem emprego. O IBGE nos informa que 13 milhões de brasileiros vivem com 147 reais por mês, que significa 4,9 reais por dia. Não temos culpa em tudo isso, pelo menos não diretamente, mas nem por isso podemos ignorar que isto está errado. Sem contar o número assustador de pessoas perdidas, que não tem um norte na própria vida, que perderam a fé em Deus e em si mesmos. Quantos tentam acalmar a fome de Deus se alimentando com coisas da terra e perdem a capacidade de esperar, de sonhar.

Advento é exatamente o contrário disso, não é tempo de distrações, mas é tempo de perceber. Perceber o que está acontecendo as nossas vidas, perceber que tipo de aposta estamos fazendo, por quais valores gastamos tempo, energia e dinheiro. Perceber o que acontece ao nosso redor e se este é o mundo que Deus quer, isso não para ficar tristes e desanimados, mas para fazer a nossa parte para um mundo mais justo.

Ficai prontos porque na hora em que menos pensais o Filho do homem virá”: não para fugir, pois Deus não é ladrão de vida, mas o Senhor da vida. Ficai preparados para não perder este encontro maravilhoso. Não precisa esperar a morte para encontrar a Deus, ele vem ao meu encontro agora, não posso perder este encontro. Ele vem ao nosso encontro de muitas maneiras: no sorriso de uma criança, na luz da oração que me reforça, na necessidade de alguém que posso ajudar: ele está lá, está presente, quer me abraçar, mas eu estou cheio de mim mesmo e não estou pronto para recebê-lo! Este é o grande sentido do Advento.

O Nosso Advento tem uma mãe, Maria de Nazaré. Ela não está distraída, ela está esperando o Salvador. Ela é modelo do nosso advento, grávida de Deus, nos convida a fazer nascer Deus em nós.

Padre Graciano Cirina | Escrito originalmente em dezembro de 2019 e publicado no site da Paróquia Sagrado Coração de Jesus

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